A DERROTA DOS RADIALISTAS nas eleições de 1954
para a Câmara dos Vereadores do Distrito Federal
Não houve quem não se surpreendesse. A eleição de Manoel Barcelos era tida como certa. A de Paulo Gracindo tinha possibilidades. A de Urbano Lóis seria também merecida. E havia ainda Paulo Roberto, Carlos Frias, Oswado Diniz Magalhães, Berliet Junior, Eladyr Porto e outros. Entraram apenas Sagramor de Scuvero e Edgard de Carvalho, que já tinham base política, mais Raul Brunini.
Pergunta-se então: que faltou a Manoel Barcelos, por exemplo? Popularidade? Simpatia? Não. É que o povo acostumou-se a votar em ‘polícos’, na exata acepção do têrmo. E, hoje, ser político é saber prometer, manter seviço de assistência social, discursar em profusão, captar eleitores, fazer lastro para a votação. O maior trabalho que Sagamor e Edgard tiveram foi o de desapegarem-se da ‘popularidade radiofônica’. Esta não serve, não traz voto. Silvino Neto ganhou da outra vez pelas críticas e ironias que fazia sua grande base política. Da próxima vez Barcelos, Frias, Gracindo etc. já saberão o caminho a tomar. O radio dá fans. Voto, que é bom, tem que ser conquistado políticamente.
Editoral da Revista do Radio de 13 Novembro 1954.
’PORQUE PERDI AS ELEIÇÕES’ – confissões dos candidatos do Radio.
URBANO LÓIS: ‘Nós socialistas, não disputamos eleições cogitando de pessoas e sim de nosso ideal socialista. De modo que o fato de eu não ter sido eleito não tem a menor importância. O que é de grande significação é que conseguimos uma vitória nas eleições, pois na legislatura passada tínhamos apenas um vereador e neste pleito conseguimos eleger três’.
ARY BARROSO: ‘Não sei a razão. Só sei que não fui eleito, o resto para mim é mistério. Do qual eu não procuro, nem me interessa, saber a razão.
PAULO ROBERTO: Por que não votaram em mim? Devo agradecer muito sinceramente às três mil e tantas pessoas que votaram em mim, pela expressiva demonstração de confiança que esse número representa para um candidato pobre de um partido modesto. Acredito que a luta Lacerda x Lutero prejudicou bastante os demais candidatos.
PAULO GRACINDO: 1º motivo: o eleitor já está muito mais esclarecido e vem, de 4 em 4 anos, politizando-se cada vez mais. 2º motivo: a guerra de ódios que foi o pleito de 3 de outubro de 1954 fez esquecer os candidatos modestos como eu. 3º motivo: o radio foi derrotado pois os candidatos radialistas não tinham patrimônio político, que não lidaram durante 4 anos com programas políticos, embora muitos deles fossem figuras queridas e estimadas.
CLAUDIO RAMOS: Com o suicídio do sr. Getúlio Vargas, a crise emocional provocada por êsse gesto trágico criou uma disputa eleitoral entre Lacerda e Lutero. Isto fêz com que onde eu tinha mais conhecimentos, na zona pobre, muitos deixaram de votar em mim, por ter ingressado na UDN.
GRANDE OTELO: Perdi porque nem cheguei a ser candidato. Meu nome foi recomendado pelo presidente Getúlio Vargas, que o indicou ao dr. Lutero Vargas. Fui incluído na lista de candidatos à vereança pelo PTB, mas na convenção riscaram o nome de Sebastião Bernardes de Souza Prata, por não saberem que se tratava do Grande Otelo. Depois Jango Goulart quis incluir-me na chama do PST, porém não chegou a um entendimento com o presidente do partido. E assim eu só fui candidato a candidato...
Lista de candidatos derrotados à vereador nas eleições de 3 Outubro 1954:
Manoel Barcelos
Urbano Lóis (esquerda, PSB)
Paulo Roberto (esquerda, PSB)
Eladyr Porto (esquerda, PSB)
Grande Otelo (esquerda PTB, originalmente)
Paulo Gracindo
Ary Barroso (direita, UDN)
Carlos Fria (direita, locutor)
Claudio Ramos, vulgo Neno (direita, UDN)
Berliet Junior (nome verdadeiro: José Assad)
Badu
Raul Longras (locutor esportivo; direita)
Osvado Diniz Magalhães (professor, apresenta programas de ginásticas transmitidos com agrado).
locutor Paulo Roberto se candidata à Deputado Federal pelo Partido Socialista Brasileiro.
Sagramor de Scuvero & marido Miguel Gustavo & filha Ana Maria.
Foto da Semana – 13 Novembro 1954.
SAGRAMOR DE SCUVERO, getulista ardente, voltou a vencer as eleições municipais, assegurando – pela terceira vez consecutiva! – um assento na Câmara de Vereadores, além de permancer brilhando no radio. Seu espôso, Miguel Gustavo, é poeta, redator de programas e publicidade no radio e, além disso, funcionário com alto salário na Câmara Municipal, um emprêgo que a prpria Sagramor lhe arranjou e não nega. A mocinha é filha do querido casal. Chama-se Ana Maria.
Eladyr Porto não conseguiu se eleger em 1954.
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