A POLÍTICA DESTRÓI OS ARTISTAS
Revista do Radio, 6 Fevereiro 1960.
RAUL BRUNINI – desde a sua eleição – duas vêzes seguidas – para a Câmara Municipal do Distrito Federal, pràticamente afastou-se do radio. Sua posição como o vereador líder da UDN, não lhe permite a mesma atuação marcante que o consagrou na Radio Globo, visto viver absorvido cada vez mais pela política.
ARNALDO NOGUEIRA – Talvez seja o mais experiente artista levado a um cargo eletivo. Dedicou-se à política e, para não ficar artísticamente prejudicado, continuou suas apresentações na TV. No programa ‘Falando Francamente’, mostra que pode conciliar suas diferentes atividades.
MANOEL DE NÓBREGA – O radio deu-lhe prestígio para eleger-se deputado estadual em S. Paulo. Durante o tempo em que cumpriu o mandato viu desmoronar-se sua reputação de artista, tão sólida. O simpático Nóbrega não perdeu tempo: deixou a Assembléia e lançou-se na reabilitação artística.
BLOTA JÚNIOR – A participação política de Blota, como deputado estadual em S. Paulo, prejudicou de tal modo sua carreira, que deixou o alto cargo na Radio Record, para dedicar-se à Radio Panamericana. Ele reconhece que a política prejudicou sua carreira artística. E não se preocupou com a re-eleição!
JAIR MARTINS – Fêz-se através do radio e da imprensa, sendo o ‘Indio’ que ‘não tem bandeira’. Em 1958 foi eleito vereador carioca, pela UDN. Vendo o exemplo dos colegas artista totalmente envolvidos pela política, tem lutado para vencer em ambos os setores. Mas o vereador está vencendo o artista...
HOMERO SILVA – Vinte anos seguidos no programa ‘Clube do Papai Noel’ garantiram-lhe a eleição para deputado estudal paulista. Não sabemos se Homero decuidou-se do microfone, absorvido pela politica. Mas, a verdade é que ele proprio, já agora, prefere as suas atividades artísticas.
JOÃO DE FREITAS – Era locutor da Radio Clube, quando foi eleito vereador carioca pelo PTB. Por mais que se esforçasse não conseguiu conciliar a politica com o microfone. Mesmo assim continua lutando nos dois campos. Mas, sem sombra de dúvida, precisa ele decidir-se por uma das coisas.
CARLOS FRIAS – Foi um operoso vereador pela UDN. Mas, reconheceu que, se de um lado poderia manter-se em posição política de destaque, n’outro ponto via desmoronar-se sua profissão de artista. Decidiu, então, abandonar os cargos eletivos, dedicando-se às atividades na TV. Política e arte são irreconciliáveis.
ARY BARROSO – O famoso compositor, eleito para a Câmara Municipal carioca pela legenda da UDN, lutou pelos problemas da cidade e dos radialistas. Cumpriu um bom mandato, mas as atividades políticas perturbaram de tal modo seu lado artístico, que hoje não quer ouvir falar em eleição.
SILVINO NETO – Devido à espetacular votação conseguida em uma eleição, Silvino Neto equeceu-se dos personagens que caracterizava – Pimpinela & Anastézio. Quando procurou novamente reeleger-se não o conseguiu. Hoje, o artista procura recuperar o terreno perdido, apresentando-se na TV.
JANIO QUADROS CONVERSA COM OS ARTISTAS
Revista do Radio, 30 Julho 1960.
Revista do Radio fêz os convites a alguns artistas para um almôço na casa de Ary Barroso, no qual seria recebido o sr. Jânio Quadros. Foi uma recepção informal, sem finalidades políticas. O candidato à Presidência da República desejava conhecer de perto pessoalmente, alguns artista do radio e TV. Ary Barroso abriu então os salões de sua luxuosa residência, no Leme, e esta revista então aproximou os astros e estrêlas ao candidato da UDN.
Foi servido, à americana, um variado almôco. Na casa do popular compositor estavam: Cesar Ladeira, Bill Farr, Paulo Gracindo, Fernanda Montenegro, Orlando Silva, João Dias, Renata Fronzi, Renato Consorte, Sergio Brito, Vicente Celestino, Gilda Abreu, Carminha Mascarenhas, Joubert de Carvalho, Waldemir Paiva, Isaac Zuckerman, Flavio Rubens, além de João Dantas, diretor do ‘Diário de Notícias’ e Anselmo Domingos, diretor da Revista do Radio.
Logo após o almôco houve um rápido show com Vicente Celestino, Joubert de Carvalho, Carminha Mascarenhas, João Dias, Orlando Silva e Renato Consorte, além de Ary Barroso, que tocou e cantou.
Nessa agradável reunião o sr. Jânio Quadros, compareceu acompanhado de D. Eloá, sua espôsa, e palestrou à vontade com os artistas e dalí retirou-se satisfeito com o contato que manteve.
AO LADO DOS TRABALHADORES, OS ARTISTAS VÃO JANGAR!
Revista do Radio, 1º Outubro 1960.
A Miguel Gustavo se deve o ‘jingle’ que considera-se a melhor música de promoção política o ‘Vamos Jangar’. No radio ou na TV o ‘Vamos Jangar’ conseguiu enorme popularidade, passando ao assobio do homem-das-ruas. Alguns chegam mesmo a cantar a música, imprimindo-lhe o sabor de sucesso das grandes marchinhas que ‘pegam’ no Carnaval, prova inconteste do êxito do ‘jingle’.
Antigamente a melhor música eleitoral era aquele baião que dizia assim:
‘Presidente Getúlio,
Ademar senador;
É Lucas Garcez p’ra Governador.
É PTB
É PSP
Unidos os três
Vencerão outra vez’.
Agora a coisa mudou – e ‘Vamos Jangar’ passou ao domínio de todos. Porque é um rítmo realmente contagiante e traz uma mensagem que se gosta de ouvir – porque, se alguns não gostam dêle, os trabalhadores, os artistas, os estudantes, as donas-de-casa, êsses querem bem ao Jango dos tralhadores, o homem a quem Getúlio Vargas entregou a carta-testamento; o Jango que mantém a paz entre empregados e empregadores e que defende os que precisam.
Vale dizer que o ‘Vamos Jangar’ é um jingle que os artistas ofereceram à Jango. Nêle, aparece Cesar de Alencar comandando o desfile de cantores. Está presente, além de grandes conjuntos de ritmo e escolas de samba, a famosa Bandinha de Altamiro Carrilho.
No jingle aparece Luiz Vieira cantando a parte do texto que se refere ao nordeste. Ivon Curi canta, em nome dos artistas de Minas Gerais. Por sua vez, Isaurinha Garcia canta para as donas-de-casa e os operários de São Paulo. Cabe ao Conjunto Farroupilha a ilustração musical dos gaúchos. Por fim, Altamiro Carrilho e sua bandinha representam os homens-do-campo, a boa gente do interior. Também Elizeth Cardoso, Dircinha Baptista, Jorge Veiga e outros nomes estão presentes no ‘Vamos Jangar’, falando por todos os brasileiros, admiradores da obra social do vice-presidente João Goulart.
Vale reproduzir a letra do ‘jingle’:
‘Na hora de votar
eu vou Jangar, eu vou Jangar, eu vou Jangar
É Jango! é Jango! É o Jango Goulart!
P’ra vice-presidente
Nossa gente vai Jangar
É Jango, é Jango
É o Jango Goulart!’
Sagramor De Scuvero & marido Miguel Gustavo & filha.
SAGRAMOR DE SCUVERO CONTA PORQUE VOLTOU:
O RADIO É MUITO MELHOR QUE A POLÍTICA
Revista do Radio, 1º Outubro 1960.
Depois de ter sido eleita vereadora carioca em 1954, Sagramor de Scuvero abandonou o radio. Sua falta foi sentida pelos ouvintes pois era muito popular. Depois desse afastamento que durou quase 5 anos,
Sagramor disse-nos:‘Eu tinha obrigação de cumprir um mandato. E não tinha forças para os dois trabalhos. Preferi a política. Sacrifiquei o radio. E fiz mal!’
‘Por isso voltou?’
‘A mágoa antiga, que me havia tirado aos poucos, o gosto de tudo, começou a ficar mais serena. O amor pelo meu trabalho no radio foi voltando. Luiz Brunini, um grande amigo meu, lembrou-se de mim e me convidou para voltar à Mayrink Veiga, que é a minha segunda casa. Dentro dela só tenho amigos. Não era para voltar?’
‘Quando o dr. Getúlio Vargas morreu eu me revoltei, e gritei acima da minha voz. Depois, aos poucos, sem que eu mesma sentisse, fui perdendo todo interêsse por qualquer coisa que estivesse fora dos portões da minha casa. Até que, um dia, reconheci que não queria nada com política, nem, tampouco, com radio. Agora posso olhar novamente em tôrno de mim e ver que o radio é o trabalho que eu quero e que espera.’
‘Seria capaz de se candidatar novamente?’
‘Já fiz muitas asneiras em minha vida. Agora eu digo, com certeza, que não. Quero apenas ficar no radio’.
‘Apóia alguem nessas eleições de 1960?’
‘Sou apenas um voto. Para Jango que, além de todo a explêndida realização dentro das normas trabalhistas, chorou ao meu lado em 24 de agôsto de 1954. Lott que é o candidato do PTB. E Carlos da Silva Rocha para a Constituinte do novo Estado da Guanabara. Escolhi Rocha porque ele realiza um extraordinário serviço social e é um homem que nasceu para trabalhar pelos outros.
Diante de um nossa pergunta: ‘O que faria como Presidente da República? – Sagramor de Scuvero disse que talvez devido à influência da velha mágoa, a Presidência assemelha-se a um campenato de futebol: se não ganha o Flamengo, grande maioria do povo passa um ano de cabeça inchada! E completou:
‘Se eu fôsse Presidente daria um cartório para Sylvio Caldas, outro ao Jorge Veiga, a essa gente que nos dá as únicas mensagens de paz e amor. Depois, renunciaria e ficaria outra vez, de torcerdor, como agora. Nem tentaria tirar a poeira de Brasília. Aceitaria logo a tese do meu marido, Miguel Gustavo, que diz: ‘Aproveitem, aproveitem essa poeira porque é histórica e vai acabar’...
Na Radio Mayrink Veiga, Sagramor não tem feito os mesmos programas de antigamente, mas manteve a tradição de ‘O mundo não vale o seu lar’, ‘Problemas da sua vida’ e ‘Cozinhando pelo radio’. Outros são novos, mas falam em cozinha. A cozinha, afinal, vale para ela 2/3 da sua
vida.
Parabéns Carlus, pela pesquisa em profundidade do tema. Um resgate historico precioso e um aprendizado com estes fatos historicos.
ReplyDeleteObrigado a sempre atenta Wilza Matos... você é sempre benvinda em nosso blog...
Delete