Sunday, December 23, 2012

Dolores Duran rompe com os Comunistas - 1958




Dolores Duran, Tito Ramalho e colegas músicos nas ruas de Leningrado no verão de 1958. 

Como visto na postagem sobre a excursão de Dolores Duran à União Soviética no verão europeu de 1958 - Dolores teve uns desentendimentos com os organizadores da empreitada que resultou em sua recusa de continuar com a troupee que seguiu em caravana para a China Vermelha de Mao Tse Tung. 

Dolores abandonou a excursão e voltou à Paris, onde ficou por algum tempo (duas semanas?), fazendo aquilo que queria. Chegando ao Rio, Dolores deu uma entrevista exclusiva ao colunista Mister Eco, que a publicou no Diário Carioca de 21 de Setembro de 1958.  Revista dos Espetáculos - Mister Eco.

Dolores Duran deixa Kruschev sem flores

Um grupo de artistas brasileiros partiu, faz meses, em excursão através dos países da chamada Cortina de Ferro, sob os auspícios do Ministério da Cultura e da União Soviética. Os encarregados de convidar os artistas e chefiá-los durante a viagem e nas apresentações em terras estrangeiras foram o sr. Alberto Carmo e o jornalista Souza Lima. Fizeram parte da comitiva - e alguns ainda estão fazendo - os cantores, além de Dolores Duran, Jorge Goulart, Maria Helena Raposo, o Conjunto Farroupilha, Nora Ney, o instrumentista Paulo Moura e mais seis músicos.

As primeiras notícias chegadas da Rússia eram das mais auspiciosas quanto ao êxito de toda a turma. De repente, porém, rumores pouco lisonjeiros e desairosos começaram a circular, nascidos de cartas particulares dos próprios organizadores da excursão, nas quais até questões de honra estavam em jogo, ressalvando-se, entretanto a parte artística. Os boatos haveriam de entrar em crescendo quando a excelente cantora Dolores Duran, Paulo Moura e mais dois músicos se desligaram do grupo, em Moscou, recusando-se a seguir para a China Comunista.

De Moscou, Dolores Duran foi fazer Bruxelas e Paris, até que os rublos ganhos lhe permitissem. Retornou a estes brasis amados há poucos dias. Noite destas, em reunião amiga, Mister Eco teve oportunidade de conversar longamente com Duran. A Bochecha Famosa fez revelações curiosas sobre sua experiência atrás da Cortina de Ferro. Tão interessantes que, a pedido do Augusto Mister, autorizou que as mesmas fossem transformadas em reportagem,

Sucesso Artístico

Até o momento em que fiz parte do grupo e só até esse momento eu posso falar - conta Dolores Duran - só conhecemos o sucesso. Onde quer que nos apresentássemos, éramos recebidos sob calorosos aplausos. Ensaiamos, inicialmente, em Moscou, com uma orquestra mista de brasileiros que foram conosco e também músicos russos. Estreamos, porém, em Leningrado, num teatro de madeira, a que os soviéticos chamam de "teatro de verão". Seguimos depois para Kiev, Lvov, Kichenhoff e, finalmente - finalmente para mim, porque os demais continuariam - Moscou, onde nos exibimos, durante oito dias, no Parque do Soldado Soviético e no Parque Górki. A nossa permanência em cada cidade era de, mais ou menos, cinco dias. Cantávamos com acompanhamento de orquestra, guitarra e ritmo. Com Swing, conhecido contrabaixista e cantor das boites cariocas, eu também dançava - vestida de baiana, como sempre me apresentava - um número de gafieira que fazia o delírio dos russos, interrompido a todo momento pelos aplausos e aos gritos de "spaciba". Os russo aplaudem, agradecendo.

Os Maiores Aplausos

Afora este número, os maiores aplausos foram tributados à voz de Maria Helena Raposo cantando "Abalu-aiê", "Funeral de um Rei Nagô", "Prece" e "Se todos fossem iguais a você".

Do meu repertório, as músicas mais aplaudidas foram "Maria Filó", em ritmo de baião, "A Bahia te espera", "Tumba le le", "Jarro da saudade", "A fia do Chico Brito" e "Bebop do Ceará". Com exceção dessa última, talvez pela palavra "bebop", todas as demais deixei lá gravadas.

Os sucessos maiores de Jorge Goulart foram "Mamãe eu quero" e "Touradas em Madrid".

O outro lado

Renovado o whiskey, Mister Eco quer saber de Dolores o verdadeiro motivo de sua deserção da comitiva. Dolores sorri um sorriso largo e diz que só fazendo suas as palavras de um músico do interior de Pernambuco, também integrante da turma que, num dia de profunda nostalgia em terras soviéticas, perguntava a si mesmo: "- Que é que eu vim fazer aqui? Quando a minha mãe souber que eu estive na Rússia, nunca mais bota a benção..."
E Dolores conta...

Fui convidada, há dois anos, para fazer esta viagem. Insistentemente convidada para viajar como artista, por Alberto Carmo, que já estivera na Rússia - e dela contava maravilhas - e pelo jornalista Souza Lima. A proposta era tentadora. Receberíamos ordenado compensador, sendo que um terço dele em dólares e o restante em rublos. Animada pela promessa da "viagem artística" e pelo desejo de conhecer novas terras, acabei aceitando.
E os dólares?

Em meio da viagem - continua Dolores - fomos avisados por aqueles senhores de que, além dos salários previamente estipulados, receberíamos mais 300 rublos como ajuda-de-custo que o Governo Soviético gentilmente oferecia, de cinco em cinco dias. A notícia foi alvissareira. No dia do primeiro pagamento do nosso ordenado, entretanto, duas surpresas nos aguardavam. Aqueles trezentos rublos da "ajuda-de-custo" foram descontados dos nossos vencimentos. E da parte em dólares, não tivemos qualquer notícia. Os organizadores da excursão nada souberam explicar. Ou não quiseram.

Foi o começo

Você me compreende, Augusto Mister, dólar é dólar, que é que há? O fato de não haver dólares desagradou a todos. Além do mais, pretendiam trazer-nos embaixo de disciplina férrea, nazista, proibindo-nos quase de quaisquer comentários que pudessem desagradar - se lhes chegassem ao conhecimento - os dirigentes soviéticos. E como eu não tenho papas na língua e nasci - graças a Deus - num país livre...

O descontentamento foi tomando corpo. Em Leningrado, o ambiente já não estava bom. Eu e mais alguns músicos já havíamos decidido não seguir para a China Comunista. Em Kiev, na Ucrania, o tratamento a nós dispensado por Alberto Carmo e Souza Lima, somente porque tiveram conhecimento da nossa decisão, era da mais franca grosseria. Comunicamo-lhes, então oficialmente, que, de jeito nenhum seguiríamos para a China. A resposta foi uma ameaça: se não cumpríssemos todo o roteiro, não teríamos a passagem de volta.

Essa, não!

Além das nossas apresentações artísticas, os nossos dirigentes organizavam programas de visitas a fábricas, fazendas-modelo, núcleos operários etc, o qual achavam que devíamos cumprir sem discutir. Insurgi-me. Para ir a uma igreja católica, tive que implorar durante três dias. Viajei, como me haviam dito aqui, em "excursão artística". Nunca me interessaram os credos políticos. Queria liberdade para ver o que bem quisesse. Mas era difícil. Soube que um dos nossos "chefes", o Souza Lima, escreveu um artigo desmerecendo dos brasileiros, dizendo-os analfabetos, atrasados e outras coisas. Mas não o li. Se o tivesse feito, tê-lo-ia trazido comigo. Quando o mesmo foi publicado, nós já estávamos em outra cidade. Os "donos" de todos nós, entretanto, prosseguiam. E, no meu caso particular - nós já estávamos em Moscou - tudo chegaria ao seu clímax, quando me disseram que eu teria que atirar flores no Kruschev... Ah! dei boas gargalhadas, mas "pedi o meu boné" e de maneira irrevogável. Insisti pela minha passagem de volta e acabei vencendo pelo cansaço. Você já imaginou, Mister Eco, eu jogando flores naquele cara? Tinha graça. Essa, não, meu companheiro! E fui toda para Paris, que é bom mesmo!

Impressões da Rússia

Mister Eco pede a Dolores Duran rápidas impressões sobre o propalado "paraíso soviético". Dolores tremelica as bochechas famosas e conta:

"Duríssima a vida nos países que visitei. Os russos vivem sem o menor conforto. Hospedamo-nos no melhor hotel de Moscou - o "Ukraina" - e nem nele, quanto mais nas residências particulares havia colchão-de-molas. E como eu não tenho prática noutra espécie de colchão, você pode imaginar... Por isso, reclamava sempre. Utilidades domésticas praticamente não existem para o povo. Não vi geladeiras, liquidificadores, torradeiras elétricas, nada! Não entendo de credos políticos, mas sempre ouvi dizer que o comunismo nivelava as classes sociais. Não é verdade. Na Rússia, pude observar a existência de duas classes sociais além dos chefões, naturalmente a dos pobres e a dos mais pobres. Creia que umas das coisas mais bonitas que achei quando retornei ao Rio foram as nossas favelas. São lindas e até poéticas. As de lá são muito piores, porque não tem nem a miséria dourada. É miséria negra, no duro.

Fomos visitados por um brasileiro, filho de russos, que chorou amargamente perante todos nós por não poder retornar ao Brasil. Lamentou nem poder nos convidar para visitar sua casa, aliás, "onde morava", porque lá não havia sequer um caixote onde alguém pudesse sentar. Nunca mais me esquecerei do sofrimento daquele nosso patrício.

Os músicos, bailarinos, artistas em geral são olhados com mais respeito que qualquer outra profissão. Talvez, por isso, e por sermos visitantes, fomos tratados com todo o cuidaddo pelos russos. Quando dizíamos que morávamos em apartamentos de um ou dois quartos, com dependências e que tínhamos programas em rádio e televisão com obrigação de trabalhar apenas uma vez por semana, sorriam incrédulos. Num quarto, na Rússia, moram até doze pessoas e há artistas que trabalham até dezoito horas por dia para ganhar 400 rublos mensais. Um quilo de carne custa quarenta.

Mas o povo é bom. Apesar  de nada dizer, sente-se o sofrimento nos seus olhos e nos seus trajos andrajosos. E - com toda sinceridade - tão bom como é o povo russo, dá pena de vê-lo viver como vive. Lenin, Lenin, Lenin, Lenin, nada além de Lenin. Lenin por todos os cantos, em gigantescas estátuas, retratos, bustos, pelas ruas, pelas paredes, na audição obrigatória - até nos transportes - de um programa de rádio transmitido às seis da manhã, diariamente, com o hino russo acompanhado de exortações leninescas. Isto enche! Certa vez, quando viajávamos num trem sujíssimo, cansados e abatidos, cortamos o fio do rádio no momento desse programa com uma tesourinha de unhas, para que pudéssemos dormir sem ouvir Lenin. Até hoje, devem estar procurando que provocou o "defeito".

Por isso, por tudo isso, foi que "peguei o meu boné" e parti para Paris. E talvez por isso, os "dirigentes" da "excursão" trataram de, com antecedência, enviar cartinhas difamatórias aos seus amigos sobre a minha pessoa e sobre os meus colegas. Eles sabiam que eu falaria. Eles sabiam que eu havia viajado somente como artista desejosa de aprimorar os seus conhecimentos, de ganhar dinheiro - ah! meus ricos dólares - e de ver novas terras.

Dolores conta mais. Fala de Paris e de Bruxelas, onde respirou liberdade. E para terminar, Mister Eco pergunta: "-E em Paris, você gravou também?". "- Gravei, sim. Gravei o meu nome numa árvore à margem do rio Sena.


Tito Ramalho, cantor brasileiro que vivia na Russia desde o final da II Guerra em 1945.

para ler mais sobre essa excursão: 

http://www.portalfeb.com.br/ii-guerra-obriga-cantor-brasileiro-a-viver-em-leningrado

Dolores Duran fala aos Comunistas - 1955



Eu sou do samba-canção’ 

Entrevista com Dolores Duran publicada no periódico Imprensa Popular, jornal do Partido Comunista Brasileiro de 1955, pós-colapso cadíacao.

Os interpretes brasileiros são preteridos pelos estrangeiros

A símpática ‘estrêla’ fala sôbre os problemas dos radialistas [Texto na 2ª página]



DOLORES DURAN, REVOLTADA:  

‘Os músicos nacionais são preteridos pelos estrangeiros’

O caso do conjunto ‘Os Copacabana’ – o artista de radio ainda precisa de muita coisa – Influência estrangeira e orquestração moderna – ‘Precisamos de paz para desenvolver nossas atividades artísticas’, afirma a jovem canotra – Reportagem de Radio-Escuta.

‘Pode entrar. Eu estou vivinha. Ainda não foi dessa vez, disse-nos sorridente Adiléia Silva da Rocha. Quem é Adiléia Silva da Rocha? – estará perguntando o leitor. E nós responderemos que se trata de Dolores Duran, cantora que recentemente teve um enfarte do miocárdio, preocupando os seus fãs, colegas e amigos.
Mas a moça agora já está recuperada. Ela mesmo nos diz:

- Quase que eu fui para o outro mundo, se é que existe isso. O médico me desenganou. Diziam que eu não escapava. Morreria na certa. Mas escapei. Aqui estou, pronta a voltar às minhas atividades.
E assim fomos ‘batendo um bom papo’ com Dolores Duran. Assuntos vários foram focalizados.

- Tenho 12 anos de rádio, - contou-nos – Comecei a cantar bem garota. Andei de Sêca a Meca. Veja: Tupi, em 1942; teatro infantil com Olavo de Barros; depois Rádio Clube Fluminense; a seguir Rádio Cruzeiro do Sul e Rádio Clube do Brasil. Finalmente, Rádio Nacional. Estou na Nacional há cinco anos e nesse período, licenciada, atuei na Mayrink, na Nacional paulista, na Jornal do Comércio, do Recife e na Rádio Carve, de Montevideo.

- Tudo isso?

- Por enquanto.

Apoio aos órgãos de classe


A uma nova pergunta, Dolores afirma:

- Eu gosto da vida. Gosto de viver, gosto de cantar, de ter amigos sinceros.

- Não. Já trabalhei num escritório. E certa feita fui obrigada a deixar o microfone, desgostosa com um caso de que fui vítima. Política de corredores, que me aborreceu.

- O artista de rádio está bem amparado?

- Não. Para o artista de rádio falta muita coisa. Nossas entidades profissionais precisam de assistência mais efetiva, de um apoio mais constante, para evitar que alguns colegas fiquem desempregados, sem ter onde trabalhar.

O telefone toca. Dolores atende. Promete comparecer a uma festa íntima.

- Eu sou sócia do Sindicato dos Músicos. – diz-nos – E sei que falta apoio a êste orgão. Qualquer músico estrangeiro vem ao Brasil e faz o que bem entende. Tudo em detrimento do músico nacional, que fica em situação de desigualdade. Quer um exemplo? Uma vez, numa ‘boite’, tôda uma orquestra nacional, ‘Os Copacabanas’, foi demitida para dar lugar a uma orquestra estrangeira.

Os ‘bambas’ da música popular


Fazemos uma referência à música popular brasileira. Dolores Duran entusiasma-se: - A música popular brasileira é uma coisa séria. Quanto a mim, gosto do samba-canção, embora aprecie também os outros gêneros.

- Tem particular preferência por algum compositor?

- Sim, mas por vários: Dorival Caymmi, Antônio Maria, Ismael Neto, Ary Barroso, Mario Lago, entre outros.

- Quais os nossos bons cantores?

- Lúcio Alves, porque sabe cantar e tem gôsto para escolher suas músicas. Ivon Curi, porque canta tudo bem. Sylvio Caldas, que não se precisa dizer por que.

- E as cantoras?

- Elizeth Cardoso, Doris Monteiro, Dircinha Baptista, Neusa Maria e Heleninha Costa.

Fã de Jorge Amado e Ehrenburg


Dolores Duran não despreza uma boa leitura. Asservera: Quando não trabalho à noite, fico lendo até tarde. Jorge Amado é o meu escritor preferido. Possuo todos os seus livros. Fiquei empolgada com ‘Os Subterrâneos da Liberdade’. Outros escritores de minha predileção, cada um em seu gênero: EhrenburgAlvaro MoreyraSomerset Maugham entre outros.

- Você gosta da música clássica?

- Gosto de qualquer música clássica ou popular. Admiro tanto Bach como o nosso Monsueto Menezes, guardadas as distâncias, é claro.

Intercâmbio com outros povos


- Que diz da influência norte-americana em nossos rítmos?

- Sou contra esta influência, notadamente em gêneros como a música folclórica, o samba corrido, o baião, o xaxado etc. Algumas músicas nossas estão ‘aboleradas’. Há gente, porém, que confunde isso com orquestração moderna. Eu sou contra a influência estrangeira na nossa música popular, porém sou a favor de orquestrações modernas sem desprezar, por exemplo, para um chorinho, a flauta, o cavaquinho e o violão.

- As nossas emissoras oferecem segurança aos seus artistas?

- Só algumas estações, que estão mais ou menos estáveis econômicamente. A maioria, porém, não oferece segurança alguma.

- Acha que devemos ampliar nossos contatos com os artistas e a cultura de outros povos?

- Sim, mas num plano de igualdade. O intercâmbio que existe atualmente, é favorável a um lado sòmente. Os artistas, que vêm de fora, têm tudo. Os nossos, que vão ao exterior, não tem nada.

- Quantos discos já gravou?

- Cinco, entre os quais estão as músicas ‘Canção da volta’, ‘Outono’, e ‘Praça Mauá’.

- Que pensa dos planos de preparação de uma nova guerra?

- Condeno intransigentemente. Precisamos de Paz, de tranquilidade para desenvolver nossas atividades artísticas.


Há uma foto de Dolores Duran segurando um disco, em frente a uma vitrola, com o texto: ‘Praça Mauá’, recente gravação da jovem cantora, está fazendo sucesso. E vendendo bem, segundo nos disse Dolores.


Dolores Duran 

Lendo nas entre-linhas o artigo sobre Dolores Duran publicado na ‘Imprensa Popular’, jornal do Partido Comunista Brasileiro, do Distrito Federal.

1. A ‘linha’ do PCB era nacionalista, portanto nada mais natural que o título da matéria fosse ‘Eu sou do samba-canção’.

2. Nota-se a preocupação em ‘denunciar’ a influência estrangeira na MPB, notadamente a norte-americana, que era vista como o ‘bicho-papão’ pelos teóricos do Partido.

3. Sendo um jornal comunista, não se poderia deixar de falar nos ‘artistas’ [leia-se: cantores e músicos] como uma ‘classe’, e a sua relação com os ‘patrões’ [as Emissoras]. Dolores coloca-se como membro do Sindicato dos Músicos e contra o tratamento dado aos músicos locais [Os Copacabanas] preteridos descaradamente em pról dos estrangeiros.



4. Dentro da literatura, nota-se a exaltação a Jorge Amado, conhecido membro do PCB. Inclusive, ‘Subterrêneos da Liberdade’, livro citado por Dolores, é a história romantizada do próprio Partido Comunista escrita pelo escritor bahiano. Entre os compositores aparece Mario Lago notório membro do PCB. Ehrenburg, poeta e romancista soviético é citado pela cantora, além de Alvaro Moreyra.

Ehrenburg, revolucionário de primeira hora na Russia, foi preso pelo regime reacionário czarista e exilado em Paris. Em Paris ele deixa um pouco a causa comunista de lado e vive a vida bohemia de Montparnasse, tornando-se amigo de Picasso, Diego Rivera, Modigliani. Acho que o elo com Dolores está justamente aí... Dolores era uma entusiasta de Paris... você nota isso em várias de suas entrevistas. Nos anos 20 Ehrenburg escreve romances modernistas que se tornam muito populares... e seu tema é justamente a Paris bohemia... Acho que é porisso que Dolores o incluiu entre seus favoritos.

Alvaro Moreyra, poeta e cronista gaúcho nascido em 1988. Viveu 2 anos em Paris [1913 e 1914]. A partir de 1942, teve destacada atuação no rádio brasileiro, onde além de escrever crônicas, também as interpretava. Participou do programa "Conversa em Família" e apresentava uma crônica diária de cinco minutos no programa "Bom-dia Amigos". Em 1958, recebeu o prêmio do melhor disco de poesia com os Pregões do Rio de Janeiro. Era casado com Eugênia Álvaro Moreyra, sua companheira de teatro e jornalismo, uma líder feminista, e sua residência em Copacabana era ponto de encontro de escritores e intelectuais.

5. Em 1955 vivia-se o auge da Guerra Fria, com os EEUU e URSS às turras, temendo-se até o início de uma III Guerra Mundial. Mistér se fazia a um orgão comunista, perguntar sobre essa eminência... e Dolores responde de acordo: ‘Precisamos de Paz e tranqüilidade para desenvolver nossas atividades artísticas’.

Partido Comunista Brasileiro, tinha muita influência no ‘meio artístico’. Mesmo tendo sido posto na ilegalidade em 1948, pelo governo reacionário do General Dutra, devido ao recrudecimento da Guerra Fria, uma boa parte da intelectualidade nacional era filiada ou simpatizante do PCB, fazendo que tivesse mais poder entre os intelectuais do que qualquer outro setor da sociedade brasileira.

Essa influência intelectual comunista continuaria mesmo depois do Golpe de Abril de 1964. O declínio dessa influência começa nos anos 70. Nos anos 80, com o aparecimento do Partido dos Trabalhadores [PT], o PCB vai minguando até desaparecer por completo. 



Radiolândia


Zezé Gonzaga & Dolores Duran